Perdeu-se um Homem inteligente, de coragem, que dizia o que pensava, devendo apenas contas à sua consciência e à sua sabedoria

Há pessoas que são demasiado grandes para caberem nas palavras. Reis Esteves foi uma dessas pessoas.
A sua grandeza de alma e de carácter, o seu lado humanista e afectivo eram avassaladores – qualquer pessoa bafejada pela sorte de ser seu amigo se sentia depositário de uma fortíssima corrente de compreensão e bondade, sempre temperados por um agudo sentido crítico e uma lucidez notável.

Em contrapartida, era implacável e contundente para com a mediocridade, a falta de princípios, a arrogância e a superficialidade, faceta que lhe valeu a antipatia de alguns figurantes do meio politico (Dumilde Rangel deve saber do que falo) - o que em qualquer caso não lhe tirava o sono...

Tive a felicidade e o privilégio de privar com ele intensamente. Mas já antes tinha trabalhado com ele em mais de que uma ocasião (quer como colegas nas Finanças ou como professores. Era fácil trabalhar com ele: o seu raciocínio claro e estruturado “descomplicava” as coisas, tornando-as simples de compreender sem lhes retirar a sua natural complexidade.

Tinha uma capacidade especial de surpreender o essencial e desvalorizar o acessório, interpretando a realidade como poucos o sabiam fazer. A essa qualidade aliava uma outra, uma enorme capacidade de resposta pronta, frontal e rigorosa.

Uma pessoa como o António Lourenço Reis Esteves não se perde - apesar de ter passado para outra dimensão, ficaram as suas palavras, as suas obras, os métodos, os ensinamentos, os instrumentos de análise, a argúcia interpretativa de tudo quanto lhe passava para as mãos.

Por isso parece-me justa e pequena esta homenagem. A sua morte abre uma tremenda ausência – Angola ficou muito mais pobre sem a sua presença vibrante e vigorosa. Ficaram os seus ensinamentos que espero bem, alguém não sejam esquecidos.
E fica também a dor e a revolta por essa tremenda injustiça da vida - ceifar a vida de um Homem que aos 59 anos já tinha dado tanto e poderia vir a dar muito mais aos seus semelhantes.
Até sempre, companheiro